quinta-feira, 21 de abril de 2011

Peer Gynt

«A acção começa nos primeiros anos do século XIX e termina por volta de 1860. Desenrola-se no vale de Gudbrande, (...) na costa de Marrocos (..).». É este o cenário de "Peer Gynt", o poema dramático de Henrik Ibse - um dos grandes expoentes do teatro do realismo moderno.

A obra foi escrita para contar a história de Peder Günt, que Ibsen teve oportunidade de conhecer, com o título original de "Peer Gynt - o Imperador de si mesmo".


"Peer Gynt" relata a viagem da personagem ao encontro de si mesmo, procurando evitar que a sua alma se dilua em não mais que coisa nenhuma. «Não me mereço.», «Necessito de tempo para pensar.», diz em dado momento.


«Ora vencida, ora vencedora, esta eterna criança que vive num mundo que está para além do bem e do mal, em que só a liberdade e a fantasia a guiam, mas que a torna surda em relação aos outros e cega para si próprio. Peer Gynt não se quer confrontar com a sua solidão, a sua fragilidade e a sua morte. Apesar do seu profundo e vital instinto de sobrevivência, a ligeireza e a pouca consistência das suas elaborações mentais não são mais do que aparências, numa vida sempre deslocada e sem raízes. Os seus desejos e sonhos (ou pesadelos) sucedem-se e desaparecem, sem que nada seja verdadeiramente modificado. Só lhe resta a fuga para a frente!

Santo ou criminoso, Peer Gynt tem a consciência que é socialmente um banido, que não está bem no real, mesmo que finja que não se preocupa com isso.(...)», descreve José Wallenstein que levou a cena no passado mês de Março a peça, na Fundação Calouste Gulbenkian, por convite do Serviço da Música daquela.

É, aliás, da autoria de Edvard Grieg, a composição em duas suites do acompanhamento musical da representação declamada de "Peer Gynt", que começa com "Amanhecer", uma melodia de flauta, representando justamente, um amanhecer na Noruega:






O interesse pelo intrincado "Peer Gynt" tem-se feito sentir por cá e além fronteiras, inclusivé no filme homónimo de Uwe Janson:







«Um homem que é ele mesmo, aí é que está o problema, eu sou eu mesmo do princípio ao fim», conclui Peer Gynt, de si próprio.


Post Scriptum: Não resisti à síntese de Vera Peneda (num artigo sobre "História de um mentiroso", encenada por João Garcia Miguel) descrevendo Peer Gynt, daí a adenda. Ei-la: «Ele sonhou ser imperador, procurou a glória pessoal e resistiu aos golpes do destino. Quando parecia ter dado o melhor para ser ele próprio, Gynt descobre que é um grandioso fracasso e que a sua vida é uma mentira colossal. No fim, é apanhado pelo amor, perde a alma e morre.»

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