quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Tenho dias assim...

Algures na tarde há um fumo que arde
no sangue de dois faladores
Discutem e agitam e como que gritam
atraem mais espectadores
Têm raiva nos dentes e fogo no olhar
atiram serpentes de fúria ao falar
Perguntam à toa, respondem que não,
e mesmo que doa hão-de ter, a razão.
Com frases alheias defendem ideias
que ouviram alguém defender
Arriscam a fé e encaram até
se sentirem que podem vencer
E não buscam verdade, que é isso afinal
viva a tempestade mentir não faz mal
Avançam nos gritos,talvez frustração
por dentro os não ditos, lá têm, a razão
(...)
Carlos Paião

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Alice goes to Hollywood


Mais uma cerimónia de elogio da indústria Americana aos filmes made in Hollywood. Este ano, no rol de pretensos candidatos a melhor filme estrangeiro, estava "Alice", a primeira longa-metragem de Marco Martins, premiado em Cannes com o "Regard Jeunes" para o melhor filme, em 2005.
"Alice" conta a história da busca de um pai (interpretado pelo actor Nuno Lopes) por uma filha que desaparece misteriosamente. Ele acredita que percorrendo diariamente o trajecto que fez com a criança no dia em que desapareceu, a poderá encontrar. Instala câmeras de vídeo pelas ruas da cidade e não perde a esperança de cruzar o olhar com Alice, por entre a multidão de pessoas com que se atropela à saída do Cacilheiro ou na Baixa Lisboeta.
Beatriz Batarda interpreta a mãe da criança.
Uma história simples mas inquietante!

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Janela de Sacada


Na rua vazia há...
Um silêncio que se arrasta
Um carro que ao longe passa
Um vulto que já se afasta.
Na janela de sacada
Uma luz recai e morre
Longamente pela rua
E pelo frio que a percorre.
Na rua fria há
Somente um ou outro carro
Nem a presença de vozes
Nem o calor de um cigarro.
Da janela de sacada
A luz aos poucos se esvai
Do vento silêncio e frio
Na rua vazia há...
Entre Aspas

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Zeca Afonso

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Esta foi uma das senhas da "Revolução dos Cravos" e o seu autor, José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, figura incontornável na luta contra a ditadura e a liberdade de expressão. Como disse um amigo, foi "um andarilho da solidariedade e da revolução".
Faleceu, faz hoje 20 anos, vítima de doença.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Ano do Porco

Não se trata de nenhum tipo de insulto velado a algum amigo distante ou superior hierárquico menos simpático.
Pelo contrário.
Fala-se da comemoração Chinesa da entrada no ano 4704, no dia 18 de Fevereiro.
E enquanto eu ardia em 40 de febre por culpa de uma gripe que este ano me apanhou desprevenida, multidões de pessoas (também no Japão, Coreia e Tailândia), saiam à rua para apreciar o espectáculo pirotécnico que segundo a tradição, é importante para espantar o azar e os maus espíritos.
O porco é um dos 12 animais que compõem o ciclo de 12 anos do zodíaco chinês. Diz-se que aqueles que nascem no ano do suíno são gentis, honestos, trabalhadores, leais e sortudas - motivo pelo qual muitos chineses preferem ter filhos no Ano do Porco.
Bom, se segundo uma estimativa, a China tinha já em 2004, 1 bilhão e 313 milhões de habitantes, com um PIB per capita que se compara a pequenos e pobres países do continente Africano, imginem, daqui a 9 meses, quais as consequências para a taxa de natalidade Chinesa e mundial, se 1/4 dos Chineses decidir, este ano, ter um filho, não obstante as punições a que o Governo sujeita os cidadãos!
Depois da recente visita do Primeiro Ministro Português à China, só agora me começa a fazer sentido a questão da "parceria estratégica" com aquele país. Se as nossas exportações para a China, a 4ª maior economia do mundo, sofreram um aumento de 68% só em 2006, o que faria a comitiva de cerca de 60 empresários que acompanham o Eng. Sócrates, sendo certo que não iriam prestar serviços de apoio pós-venda?
Recrutar mão de obra! Pois claro! Se até os membros recentes da UE como a Roménia e a Bulgária já nos ultrapassam em questõs de desenvolvimento económico e social, em que outro país se poderia conjugar de forma mais concertada a educação para o trabalho e o pauperismo das condições de vida, muito similares, aliás, às que temos por cá?
A população rural Chinesa será o grande projecto do governo. Por esta altura, Salazar, às voltas no caixão questionar-se-á porque não se lembrou ele disto. Teríamos nesta altura um Alentejo povoado, cultivado e produtivo, sem lamentarmos o pós IV quadro comunitário.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Pensamento do dia

“A puta velha da sociedade levantou as saias, e o fedor foi nauseabundo"

Joe Orton

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Os Grandes Portugueses

Candidato nº 1
O omnipresente
Candidato nº 2
Está mau para todos!

Candidato nº 3
«Vou pedir uma paróquia no Brasil»
Candidato nº 4
Natural Blood Killer
Candidato nº 5
"Lost"

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Aquarela

Faço uma pausa para desenhar um sol amarelo. Para ti, menina-obrigada-a-ser-mulher, para que nele possas beber forças para continuar a jornada.

Olhares...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Dia da minha mãe

«No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe!
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
ao fundo dos teus olhos!
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais!
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração

no retrato da moldura!
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos...
Mas tu esqueceste muita coisa!
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -,
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes! - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu...Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esquecerei de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas...
Boa noite. Eu vou com as aves! »


"Poema à Mãe", Eugénio de Andrade in Antologia Breve

Pouco importa quantos anos são, quantos passaram. Que outros tantos venham.
Parabéns!