quinta-feira, 21 de abril de 2011

Era uma vez um lugar

Era uma vez um lugar onde havia um pequeno inferno e um pequeno paraíso.

As pessoas gostavam dos dois com a mesma intensidade de quem precisa de ar para viver, e por isso, viviam militantemente insatisfeitas.

- Está mal! - diziam. E porquê? - Porque está mal. Não pode ser assim.

- São todos iguais, não vale a pena fazer nada.

E paulatinamente foram-se dispersando nas suas motivações, sem nunca prescindirem do seu direito à indignação. E não podemos malquerer às pessoas assim, que não prescindem do seu livre-arbítrio, da liberdade de expressão, etc. e tal.

Os senhores do poder, eleitos para representar a insatisfação das pessoas, espelhavam coerentemente, a sua alienação. Também eles diziam que tudo estava mal, e que dessa forma não poderia continuar, claro está.

Um dia o tal lugar ficou saturado dos queixumes das pessoas que lá viviam. Rebela-se e pede a outros lugares, ajuda para restituir a identidade perdida.

Num voo especial chegaram uns senhores que quiseram perceber o fenómeno. Vinham manifestamente preocupados e com vontade de restituir ao lugar a ordem de que precisava. Leram papéis, muitos papéis, e queriam falar com as pessoas para perceber o seu desassossego.

Mas nesse lugar as pessoas reinvindicavam o direito ao descanso. O seu inferno e o seu paraíso maçava-as violentamente e sentiam que não podiam sucumbir, por falta de resiliência, ao seu direito de gritarem que tudo estava mal... como sempre estivera.

Então os senhores que ainda tinham o poder, nesse lugar, autorizaram que todos as pessoas que trabalhavam para o bem-estar do lugar, teriam direito a uma interrupção de cinco dias das suas obrigações para a causa pública, «Considerando a tradição de tolerância de ponto em serviços não essenciais na época de Páscoa (...)» (como centros de saúde, hospitais, tribunais, etc. ...).

Aqueloutros que tinham chegado num voo especial, não percebiam como é que um lugar podia ficar cinco dias fechado. Mas afinal aquele era apenas um lugar. Um lugar com um défice externo como já não havia (muita) memória, com uma taxa oficial de desemprego superior a 11%, com uma taxa de 10% de pessoas a viver a baixo do limiar de pobreza, onde um mês antes as pessoas saíram civilizadamente à rua a reinvindicar um posto de trabalho, é certo, mas apenas um lugar...

Enjoy your easter hollidays Mr(s). funcionário público!

Sem comentários: