sábado, 30 de junho de 2007

Ao espelho

A madrugada de sexta feira chegou, finalmente. Aguardavam-se expectantes, momentos de pura adrenalina. Por volta das 3h, a coisa prometia. A troco de €0,72, a possibilidade de ganhar 1000 a 4000 euros. Já me imaginava, o Agosto a chegar, a bordo de um trimaran qualquer, em águas Gregas, a navegar de ilha em ilha e a acompanhar, um mavrodafni com 3 pedras de gelo. A contrapartida era até muito aliciante. Nomes de serras Portuguesas com a letra "e".
De caneta em punha, lá elaboro uma lista de 29 possibilidades, a promessa do caminho "straight to heaven". À primeira, toda a gente sabe, é só para experimentar. À segunda, para tentar a sorte... À terceira... toda a gente sabe que nunca é de vez... Mas depois de €15 em chamadas, é indigno, vergonhoso, atrevo-me até: infra-humano, não ter acertado uma única vez no raio da chamada número 50 que me permitira responder ao número aproximado de "miminhos" coloridos oprimidos num jarro de vidro, para depois tentar que uma, da minha lista de 29 serras com a letra "e", pudessem corresponder a um cheque à altura do investimento.
Mas o que me incomoda, nem é o facto de estar agora sem dinheiro no telemóvel, porque se mais tivesse, mais gastaria a tentar a minha sorte (??!!!). Nem sequer o facto de fazer uma chamada que segundo a "operadora automática" do outro lado da linha é a número 36 e imediatamente a seguir ligar o mesmo número de telefone e a mesma criatura vocifrar que a minha chamada era a 33; ou num outro momento, com o valor do prédio a quadriplicar, a expectativa ao rubro, e a senhora da voz simpática ter dito que a minha chamada era a número 49 o que me fez "religar" de imediato o mesmo número para ouvir que a minha chamada era a número 31. Não. Na verdade, nem o facto de estar acordada até de madrugada a ligar para um programa gravado em Espanha por uma candidata a apresentadora de televisão que consegue dar mais calinadas e dizer mais disparates ao minuto do que eu após uma semana de trabalho intenso e poucas horas de sono.
Há que dize-lo olhando-me ao espelho. O que me incomoda é estar, ainda, a relatá-lo aqui.