sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tudo sobre... Agrado


«Chamam-me Agrado porque toda a minha vida, sempre tentei agradar aos outros. Além de agradável, sou muito autêntica. Vejam que corpo... Feito à medida. Olhos amendoados: 80ml; Nariz: 200ml (...) Seios: dois, porque não sou nenhum monstro. Setenta mil cada, mas já estão amortizados

Continua: «Custa muito ser autêntica, minha senhora. E nestas coisas não devemos economizar, pois é-se mais autêntica quanto mais se parece com o que se sonhou para si mesma.»

Através da personagem de Agrado, transsexual, a actriz Antonia San Juan conduz-nos inevitavelmente à reflexão sobre o que julgamos ser autêntico e a falsidade; a mentira como forma de sobrevivência e a verdade como impossibilidade.

Todos (?) reconhecemos no uso social da mentira uma inevitabilidade... que nos "livra" de compromissos chatos (pessoais ou profissionais). Sim, porque todos mentimos... Talvez pela necessidade, como refere Simone Weil, de construirmos «uma armadura (...) que permite ao inapto que existe em si sobreviver aos acontecimentos que, sem essa armadura, o aniquilariam...» - e assim compreendemos também, a necessidade de tantos outros de fantasiarem acerca duma verdade que de forma mais ou menos consciente, não passa do recalcamento de uma certeza dolorosa.

Afinal, a verdade só nos é conveniente, quando de encontro à realidade que construímos para nós... E nisso, de facto, Agrado não poderia ser mais autêntica.

Sem comentários: